sábado, 27 de janeiro de 2018

Projeto de extensão GRAAPA é renovado para 2018




O projeto de extensão do curso de jornalismo da Universidade Federal do Amapá, GRAAPA (Grupo de Estudos e Produção Audiovisual do Amapá), teve sua renovação confirmada na sexta-feira 26 de janeiro. Estudantes de todos os cursos da UNIFAP, que tem interesse em participar e colaborar efetivamente com o projeto, podem manifestar interesse pelo e-mail graapaaudiovisual@gmail.com ou por meio do grupo de facebook “GRAAPA – Grupo de Estudos e Produção Audiovisual do Amapá”.

O GRAAPA tem como objetivo promover a formação de público para o audiovisual do Estado do Amapá, oportunizar momentos de estudos e aprofundamento, além da produção de mídia audiovisual. Os encontros do GRAAPA serão periódicos em locais previamente agendados na UNIFAP ou escola pública de Macapá.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

"NO ESCURINHO DO CINEMA: Cineclubismo e formação de público para o audiovisual no Século XXI"



Uma das principais atividades do GRAAPA, explorando a atividade cineclubista no cenário do Século XXI, são as sessões de cinema e vídeo abertas à comunidade, sempre aos sábados à tarde na UNIFAP.  
Dentro da metodologia do GRAAPA para as sessões, são escolhidos os diretores (democraticamente, todos podem sugerir nomes de cineastas e filmes que são colocados no "saquinho mágico" para sorteio). De cada diretor sorteado, são selecionados por meio de votação pelos membros do Grupo quais os filmes que serão vistos e debatidos. Esses debates após o visionamento do filme, precedidos de breve apresentação do mesmo (em seu contexto de produção social, político e artístico), ao mesmo tempo, são momentos descontraídos e ricos como contribuição para a reflexão e conhecimento. Os debates nas duas últimas sessões do primeiro ano de existência do Grupo (2014) passaram a ser integralmente registrados e transcritos e estão agora aqui disponibilizados nesta seção do Blog do GRAAPA como forma de compartilhar com os que não puderam estar na sessão e repercutir e ampliar o debate e os diálogos possíveis sobre estes filmes e seus diretores.
Aqui compartilhamos a transcrição do debate da sessão do filme "Evita" de Alan Parker.

Filme: Evita
Ano: 1996
País: EUA
Roteiro: Alan Parker
Gênero: Musical/biografia
Idioma: Inglês

Elenco Principal: 

Madonna-Eva Perón
Antonio Banderas-Che
Jonathan Pryce-Juan Perón
Jimmy Nail-Augustín Magaldi
Victoria Sus-Doña Juana
Julian Littman-Juan
Olga Merediz-Blanca
Laura Pallas-Elisa
Julia Worsley-Erminda
María Luján Hidalgo-Eva (jovem)
Servando Villamil-Cipriano Reyes
Andrea Corr-amante de Perón
Peter Polycarpou-Domingo Mercante
Gary Brooker-Juan Bramuglia
Maite Yerro-Julieta

Introdução antes do início do filme "Evita"

Para entender o contexto é bom fazer um retrocesso. A constituição da Argentina de “Los Hermanos” é bem diferente da nossa, teve um processo de independência mais forte, com mais insurreições, com disputas. Dando um exemplo, o nosso também teve com a Cabanagem, etc. Mas lá, com a industrialização, por exemplo de carne, eles desenvolveram a indústria de exportação. Modelo capitalista, houve uma grande industrialização. Os governos eram conservadores até então, Perón(1) era ministro do trabalho, fazendo toda uma política de garantias de base para o trabalhador e foi a partir de então que ele começou a carreira política, logo depois ele cria um movimento que se torna o Partido Justicialista, que ficou conhecido por defender os direitos dos trabalhadores. Segundo alguns autores ele é a alternativa latino-americana para a crise do capitalismo, o populismo. É interessante pra nós, para analisar e comparar o populismo e coronelismo do Brasil e se ocorre também aqui no estado do Amapá. A gente vive hoje um neopopulismo na América-Latina. O coronelismo tem uma cultura política de assistencialismo também, mas ele tem uma relação de domínio de paternalismo, o voto de cabresto e etc. Segundo alguns autores o populismo surge somente em áreas urbanas, é como se fosse irmão gêmeo do coronelismo, ele se manifesta mais nas camadas operárias no contexto argentino e é aí que entra a figura da Evita. Então a gente pode olhar a Argentina dos anos 50, 60, 70 e analisar o Brasil e o Amapá em 2014, estamos falando de populismo e neopopulismo. O líder máximo populista no Brasil foi Getúlio Vargas, pai dos pobres “trabalhadores do Brasil”.  É quando se cria a indústria no Brasil, no mesmo bojo da guerra. A Argentina começa um pouco antes com a industrialização e a exportação da carne, na Argentina tem o gaúcho que é o ribeirinho daqui, ele tem essa cultura meio estigmatizada. As áreas rurais eram vistas como entrave do desenvolvimento argentino, a proposta de uma Argentina urbana é industrial e dentro desse contexto começa o populismo, dessa burguesia que nasce com esse “boom” econômico e desenvolvimento da indústria, mas vem a crise. Vem o golpe, os militares fazem eleições em 70, o então presidente renuncia causando uma reviravolta e consegue fazer novas eleições e trazer Perón de volta. O Peron até hoje é uma sombra na vida política do país, tanto é que a Cristina Kirchner é do partido justicialista. Em 73 Peron volta, mas em 75 tem um novo golpe militar. O golpe militar em 75 põe fim à era do peronismo. Evita teve um papel importantíssimo dentro do populismo. Evita tem uma ligação fortíssima com o povo argentino, tanto que seu corpo foi embalsamado, ela é quase uma santa para os argentinos. Ela criou essa saída para primeira dama, esse papel para a mulher. Ela vem de origem humilde e é aí que está a maior crítica, muitos dizem que ela se aproveitou da beleza da sedução e foi galgando até chegar ao presidente, ou seja, a ascensão social através de seus atributos. Mas na verdade ela foi uma figura política importante, ela cria centros de acolhimento, escolas e faz uma rede de assistência principalmente para mulheres e para crianças e é por isso que ela se torna um ícone, principalmente pelo carisma que é uma característica populista.

      1ª Presidente da Argentina de 1946 a 1955 e de 1973 a 1974.


Discussão após a exibição do filme

Registro, Transcrição e edição por Jhonatam Nascimento (Turma 2014 de Jornalismo-Unifap)


Rafael: Esses filmes que mexem... Eu não conhecia a história.

Isabel: Vamos falar sério! Alguém sentiu vontade de chorar?

Rafael: Sim                                                                                                     

Isabel: Quem mais?

Jhonatan: Deu uma emoção.

Isabel: É....É.... impossível não se emocionar. É uma coisa que o cinema consegue construir... inclusive no início do filme esqueci de citar, os estudiosos do tema populismo colocam toda uma descrição, o que o constitui o Populismo: a propaganda.

Rafaela: Vi muito populismo... o fato dela falar assim com o povo, pegar criança no colo.

Isabel: A propaganda, a imagem. Né! É a imagem do fascismo, do populismo, a relação do populismo argentino com o fascismo. No Brasil você também vê isso com Getúlio. Tem uma parte do filme que fala isso, a construção da imagem, ela era uma “descamisada” era o povo, a ARGENTINA do gaúcho, do camponês. Na Argentina tem até hoje certa divisão entre urbanos e camponeses, essa Argentina que rejeita a "Argentina". Teve uma campanha de eugenia em que eles queriam trazer somente os imigrantes americanos. Trazer, inclusive, muitos professores estrangeiros.

Andreza: Eu não entendi o papel do Bandeiras.

Isabel: É um musical e tem muito de teatro.

Alesson: É uma peça, uma peça de teatro adaptada para o cinema.

Isabel: Ah... por isso.

Andreza: Eu não sabia que era um musical, se fosse para assistir em casa eu não iria assistir, porque eu não consigo me focar no filme, ao final do filme eu sempre consigo gostar do que eu assisti, quando se trata de um musical, mas assim para eu conseguir assistir é uma dificuldade.

Isabel: Hum, todo mundo sente assim?

Alesson: Nesse musical... Ele lembra muito os miseráveis é muito corrente.

Andreza: Os miseráveis eu amo de paixão o filme.

Alesson: Assim, não tem diálogo é só música, música enjoa.

(Risos)

Rafaela: É verdade

Rafael: É por isso que eu gosto de filme de guerra.

Isabel: Filme de guerra, Como é a história?

Rafael: Além da guerra também tem histórias, como o "Resgate do soldado Ryan".

Isabel: Então é unânime, Ninguém aqui gosta de musical?

Alesson: Eu gosto, só não gosto de um musical corrido.

Rafaela: No musical é um pouco difícil absorver a história já que tem muita música nas falas.

Jhonatan: Fica cansativo.

Alesson: As vezes tem umas músicas que são legais e outras nem tanto.

Rafaela: Ha ha a gente viu isso.

Andreza: Tem umas músicas que quando eu chegar em casa eu vou baixar porque a trilha sonora é muito linda.

Isabel:Não chores por mim querida” hahaha

Isabel: O que mais marcou além do filme ser um musical e o musical não ser o gênero favorito de vocês?

Rafaela: Nesse filme a gente viu pouco do Alan Parker, como vimos nos outros.

Isabel: O Alesson estava falando que era uma peça que foi transformada em filme. O Alan Parker transformou em filme uma peça de teatro que já existia. O que mais ficou além do fato de o filme ser musical e de todo mundo ter tido vontade de chorar?

Rafael: Eu achei muito interessante por eu não conhecer essa parte da história Argentina, nossos vizinhos.

Jhonatan: Eu fiquei surpreso, pensei que o filme ia fazer elogios à Evita, mas no começo ele faz críticas à ela, com o Banderas no começo do filme falando do povo, mas depois ele constrói a imagem dela ao longo do filme.

Isabel: A mesma sensação que eu tive. É por isso que o filme provocou tanta polêmica.

Rafaela: Os Argentinos não aceitaram a Madona no papel de Evita.

Isabel: Para os Argentinos a Evita é uma santa.

Jhonatan: Colocam a Madona uma americana para fazer o papel de Evita.

Rafaela: Eu gostei de ver a parte da publicidade que é bem forte.

Isabel: Mostra a construção da imagem.

Jhonatan: Como ela traz o povo para perto dela, o dinheiro entrando.

Isabel: Mostrando que ela era uma mulher do povo, uma descamisada, mas mostrando a necessidade de exibir luxo.

Rafaela: Isso é contraditório.

Isabel: Isso faz a gente pensar, a quantidade de gente os descamisados...

Isabel: Isso faz a gente pensar, a quantidade de gente... o Collor de Melo usava esse termo "descamisados", os "pés descalços", ou seja se identifica com o fato dessa pessoa ter vindo de origem humilde, mas não pode andar mal vestida.

Rafaela: É o caso do Lula.

Isabel: Então você tem uma atriz americana e um ator espanhol. O Banderas que representa o corifeu do teatro, aquele que sabe tudo, conduz, que é o fio condutor da narrativa. Madona é a protagonista, mas é ele que é a voz da história. É interessante que essa é a visão norte-americana da américa-latina e da história da Argentina. Eles fazem o que?

Rafaela: Eles desconstroem.

Isabel: Eles desconstroem a visão do populismo. Clientelismo, líder carismático e fazem uso da publicidade. Mas mesmo assim acaba o filme e você continua admirando a Evita.

Rafaela: Pro tempo dela ela foi uma grande mulher. Pela ambição dela.

Isabel: O filme faz pensar isso. Ela tinha ambição, não tinha ambição?

Jhonatan: Não duvido nada que ela tenha influenciado a Cristina Kirchner.

Isabel: A Cristina é do partido justicialista. Não precisa ir longe. Considerada neo-populista. É interessante observar a visão do populismo do PV norte-americano. Nada é por acaso. Neo-populismo = América Latina.